domingo, 7 de fevereiro de 2010

Festa de louvação da vida - o carnaval

FESTA DE LOUVAÇÃO DA VIDA – O CARNAVAL

Amigos,

Uma semana que temos para que ocorra o carnaval. Esta festa parece que foi, em tempos passados, um festival em homenagem à deusa da fertilidade. A festa de carnaval primeiro foi realizada por povos que viviam em regiões que ficam acima da linha do Equador, essa linha que a gente imagina que divide a terra. As festas em homenagem à deusa primavera ou da fertilidade aconteceram primeiro no lugar chamado Mesopotâmia, hoje conhecido como Iraque.

Como a gente sabe, a primavera é o tempo em que as plantas dão flores, nascem os frutos, os animais entram em cio e é a época dos acasalamentos. Nós vivemos abaixo da linha do Equador, e a primavera acontece no mês de setembro, mas o carnaval acontece em fevereiro ou março, porque essa festa religiosa foi trazida pelos povos da Europa, os portugueses, e lá a primavera acontece no mês de fevereiro ou março.
A brincadeira de carnaval começou no Brasil quando a Rainha Dona Maria I de Portugal veio morar no Brasil. As pessoas iam para a rua pra brincar o “entrudo”, que era principalmente a brincadeira de molhar os que passavam nas ruas com água de cheiro e jogar pedaços de papel, os confetes e as serpentinas. Também jogam água suja. Os barões, condes, viscondes, marqueses e outros ricos, brincavam o entrudo e faziam as festas em clubes fechados. Mas depois que foi decretado o fim da escravidão e da proclamação da República, a maior parte da população passou a ser livre, e esse povo começou a fazer o carnaval de rua. E foi então que no Rio de Janeiro começou a aparecer o samba e as Escolas de Samba; na Bahia apareceu o Afoxé; no Recife foi o começo a tradição da música e da dança do Frevo e, na Mata Norte começou a aparecer os Caboclinhos, os grupos de mulugu, depois conhecido como maracatu.

Nessa semana, nos terreiros e nas sedes tudo está acontecendo no sentido de terminar a preparação para a saída de nossos maracatus, de nossos caboclinhos.
O Programa Canavial, nesta semana deseja aumentar a animação dos donos de maracatus, dos mestres de maracatus e mestres caboclos, dos mestres das tribos de caboclinhos e das tribos de índios para que todos estejam, sob a proteção de nossos santos e nossos caboclos para fazer, do nosso carnaval a grande festa de louvação da fertilidade de nossa vida.



Editorial escrito para o Programa Canavial dos dias 5 e 6 de fevereiro de 2010.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Cinqüenta e duas semanas do Programa Canavial

CINQUENTA E DUAS SEMANAS DO PROGRAMA CANAVIAL
Severino Vicente da Silva

Caros amigos

Neste programa estamos festejando um ano de atividades, ou seja, são 52 encontros semanais nos quais conversamos sobre temas diversos, todos relacionados com a realidade e o cotidiano do povo da Mata, especialmente a Mata Norte. Nessas 52 e duas semanas conversamos com pessoas de nossa cidade, gente que, como você, está construindo a possibilidade de uma vida melhor para os que vivem em nossa cidade. Aqui nós entrevistamos artistas locais: artesões, músicos, cantadores, cantores, mestres em suas modalidades e seus ofícios. Também, nesse nosso encontro semanal nós ouvimos muitos artistas que produzem músicas que cultivam as nossas tradições, as nossas raízes culturais. Conversamos sobre os problemas que afetam a nossa vida, coisas como limpeza das ruas, qualidade do ensino nas escolas freqüentadas por nossos filhos, amigos e por nós mesmos.

Este Programa Canavial procurou ser, neste ano que completa hoje, um lugar da construção de nossa cidadania. Aqui louvamos o trabalhador e o resultado de seu trabalho, mas chamamos atenção daqueles que são responsáveis por encaminhar iniciativas que tornem possível a felicidade de todos os habitantes de nossa cidade e das cidades vizinhas, pois sabemos que só o trabalho coletivo, solidário e comunitário é capaz de criar essas condições de felicidades, de alegria e confiança no futuro.

Amigos, o Programa Canavial continuará, neste novo ano de atividade, a incentivar cada um dos habitantes da Zona da Mata Norte a procurar novas formas de organização, novas maneiras de melhorar nossas vidas. E começamos a lembrar que estamos no mês do nosso carnaval, do momento em que o povo vai às ruas para mostrar a sua alegria de estar vivo e de viver. Este é o momento de nossas agremiações, nossos blocos, nossos Maracatus, nossos Caboclinhos, nos Bois de Carnaval, receberem um carinho especial de nossos prefeitos. As agendas carnavalescas de nossas cidades devem dar prioridades à nossas manifestações culturais locais, para que recebamos com alegria os nossos visitantes. Ao mesmo tempo, devemos nos lembrar de nos preparar para receber bem aqueles que chegarem à nossa cidade para conosco brincar o nosso carnaval.

Obrigado a todos que neste ano nos acompanharam e esperamos estar juntos nas próximas 52 semanas.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Os Santos e a nossa saúde

Os Santos e a nossa saúde

Severino Vicente da Silva

Algumas das nossas cidades da Zona da Mata têm como padroeiro, como protetor São Sebastião, um cristão que foi soldado e morto durante o governo do imperador Diocleciano de Roma. Os portugueses trouxeram para o Brasil a devoção a São Sebastião como o santo protetor contra a peste, em uma época em que pouco se podia fazer para vencer as epidemias além de rezar. A devoção a São Sebastião continua entre os católicos. Da mesma maneira, os brasileiros que seguem a religião do Candomblé também cultuam a Obaluayê. Fazem bem os que pedem aos seus santos e orixás a proteção contra as doenças. O Programa Canavial acompanha as festas realizadas em homenagem a todos os protetores do povo da Mata Norte.

Mas o Programa Canavial lembra que nos dias atuais nós podemos fazer mais que rezar para os espíritos, santos e orixás no sentido de ficarmos livres das doenças. Hoje nós sabemos que muitas das enfermidades podem ser evitadas com medidas simples, como lavar as mãos, manter as ruas limpas, e outras ações que cada um de nós pode fazer. Mas também as iniciativas que os que administradores públicos precisam estar atentos. Por exemplo, é necessário que as nossas cidades tenham um bom serviço de distribuição de água e recolhimento de esgotos, coleta de lixo, oferta de serviços de saúde e, nas escolas, igrejas, associações todos devem ajudar a manter todos os espaços limpos. Ruas, quintais, jardins e terreiros sujos são hospedagens de baratas, ratos, escorpiões e mosquitos, portadores e transmissores de doenças e das pestes que tanto nos incomodam.

O Programa Canavial, nesta semana de Louvor a São Sebastião lembra que podemos pedir ajuda aos nossos santos protetores, mas devemos ajudá-los a nos ajudar, mantendo nossos corpos, nossas casas, nossas ruas e os ambientes onde trabalhamos e vivemos, limpos e saudáveis.

ps. escrito para os programas dos dias 22 e 23 de janeiro de 2010.

Joaquim Nabuco

JOAQUIM NABUCO


Amigos,

Neste domingo, dia 17, completa cem anos da morte de Joaquim Nabuco, o maior dos brasileiros que se levantou contra a prática do uso do trabalho escravo na produção de riqueza no Brasil. Quando escreveu sobre a sua formação, ele lembrou que a cena que marcou a sua vida aconteceu quando ele ainda era menino. Estava na varanda com a sua madrinha, quando um escravo, menino como ele, todo machucado pela surra que levou do seu dono, proprietário do engenho vizinho, pediu para ser comprado para poder escapar da violência do seu senhor. Essa cena fez com que Joaquim Nabuco prometesse a si mesmo que tudo faria para acabar com a escravidão no Brasil. Assim ele fez. Ainda estudante de direito defendeu um escravo que, para não mais ser espancado pelo seu dono, o matou. Depois se tornou deputado e, durante toda a sua vida dedicou-se para acabar com a escravidão, o que veio a acontecer no dia 13 de maio.

Mas Joaquim Nabuco queria o fim da escravidão com uma reforma agrária, com a entrega de terras para que os ex-escravos trabalhassem para si mesmo, que fossem criadas escolas para todos os homens e mulheres brasileiras. Joaquim Nabuco entendia que era necessário um grande esforço educacional para superar os males causados pela escravidão. Um desses males é a mania que alguns brasileiros têm de viver gritando com os outros, de não tratar todos como seus iguais. Infelizmente, depois da assinatura da Lei Áurea não aconteceu esse esforço educacional para integrar todos os brasileiros em uma só nação.

É para completar o trabalho de Joaquim Nabuco que o Programa Canavial lembra que precisamos melhorar as nossas escolas, para que elas não sejam apenas lugar onde se aprende mal a ler, escrever e contar, mas que elas sejam lugares de formação de cidadãos e homens livres. O Programa Canavial homenageia Joaquim Nabuco e convida todos os professores das escolas da Zona da Mata Norte a conversar em suas escolas sobre o maior de todos os brasileiros.


ps. Escrito para os programas dos dias 15 e 16 de janeiro 2010.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Final de Ano

FINAL DE ANO

Severino Vicente da Silva

Esta semana estamos mudando de ano, saímos de 2009 e entramos em 2010. Em todos os lugares encontramos pessoas nos desejando um bom ano novo. O mesmo fazemos nós. A todos nós dizemos que é nosso desejo que o novo ano traga felicidade para todos. Mas o que significa felicidade?

Quase sempre nos vem a idéia de que a felicidade é uma situação em que os problemas deixaram de existir e que, parece que finalmente não teremos mais com o que nos preocuparmos. Essa idéia é muito comum e ela nos é ensinada desde cedo, especialmente nesse período do ano quando trocamos presentes, ou simplesmente recebemos ou damos algum presente, por mais simples que seja. Parece que a felicidade não é apenas ter as coisas, mas é poder viver as alegrias que os homens e as mulheres construíram ao longo do tempo. A felicidade é sempre algo a ser conquistado, como ter uma casa; poder levar os filhos para a escola e nela termos professores satisfeitos com o trabalho que fazem; é ter saneamento básico nas nossas casas e em toda a cidade; ser feliz é poder sair à noite sem temor de um assalto, pois sabemos que o estado nos garante a segurança para nós e nossos filhos; felicidade é saber que o sistema de saúde de nossa cidade funciona e atende as nossas necessidades.

Como se vê, a felicidade não pode ser alcançada isoladamente, individualmente; a felicidade só será completa quando todos tiverem acesso aos bens que a cultura, que é o resultado das criações dos homens e das mulheres em todos os tempos, criou para todos. Nós, do Programa Canavial, desejamos que todas as pessoas e todas as comunidades da Zona da Mata e de Pernambuco sejam felizes, que todas elas tenham e usufruam dos bens sociais. Desejamos que todos os nossos ouvintes celebrem com esperança, com alegria, com amizade e muito entusiasmo o início de 2010, e que ele este novo ano seja cheio de realizações e que nossos trabalhos nos tornem mais felizes, e que nossas tradições fortaleçam nossas amizades e torne o nosso região cada vez mais alegre e bonita.
Feliz Ano Novo para todos. Vamos todos fazer este ano que começa o mais novo de nossas vidas

PS: Escrito para os programas de 31 de dezembro de 2009 e 1 de janeiro de 2010

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal

NATAL

Severino Vicente da Silva


Enquanto o vento sopra as folhas da cana verde e caminhões e tremiões correm dos canaviais queimados em direção das usinas, podemos ouvir as conversas sobre as festas de Natal. O natal é a festa do nascimento do Menino Jesus, o filho de Deus e de Maria. O filho de Deus nasceu em um lugar pobre, uma gruta que servia de proteção para os animais em época de frio, como na noite em que o Menino Jesus Nasceu. Essa gruta ficava fora da cidade, um lugar de difícil acesso. Um dos mistérios mais bonitos do Natal é que nós festejamos o nascimento de um pobre. Outro mistério do Natal é o aparecimento de três reis que estão à procura do lugar onde nasceu a criança que será o maior de todos os reis, segundo esses sábios que vieram trazer presentes para ele. Como é bonito esse mistério: reis, de muita sabedoria, vêm prestar homenagem a uma criança pobre, e trazem para elas presentes dignos de reis.
Na tradição da cultura de nossos pais e avós, a festa de Natal era realizada na frente da Igreja, com uma missa rezada à meia noite e, depois as pessoas iam para suas casas. Mas também havia a dança do Pastoril, com as meninas-moça, vestidas de pastoras dos cordões Encarnado e Azul, cantando as jornadas até o dia 6 de janeiro, o dia dos Santos Reis Magos. Antes de chegarem à gruta onde estava a criança, os Magos passaram na casa do rei Herodes que queria saber onde estava a criança para poder matá-la. Desconfiados, os Reis Magos não voltaram a falar com Herodes e assim salvaram a criança daquele malvado.
Na Zona da Mata, onde os sítios estão se acabando e as cidades crescendo sem muita ordem, todo o tempo tem Menino Jesus nascendo, trazendo novas esperanças para todas as famílias. Tem estrelas brilhando, iluminando o caminho para que cheguem boas notícias com os Reis Magos. No dia 23 dezembro, os jornais informaram que um cortador de cana, nos canaviais de Palmares, Jonas Lopes da Silva passou no vestibular da Universidade de Pernambuco e vai estudar medicina. Ele diz “ minha mãe foi acabada pela cana de açúcar. Foi massacrada pelo destino. (...) e quando meu pai me disse que se eu não estudasse eu iria cortar cana, fiquei danando.” E esse conselho do pai e essa raiva fizeram Jonas estudar.
O Programa Canavial deseja um Feliz Natal para todos os rapazes e moças, a todos os pais e mães de todas as famílias da Zona da Mata, especialmente lembrando que Jonas, neste Natal está sendo um rei que nos dá de presente a sabedoria de sua experiência: é pela cultura e pela educação que vamos nos livrar dos planos de Herodes.

Enquanto os caminhões e tremiões passam em direção das usinas ou dos canaviais, a gente continua se preparando para a festa do Natal. A gente, que como o Menino Jesus, nasceu pobre

Escrito para os programas dos dias 25 e 26 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Caboclinhos Cahetes de Goyana

CABOCLINHO CAHETES

Severino Vicente da Silva

São muitas as razões para que os pernambucanos tenham orgulho de sua história, e entre esses motivos podemos mencionar o município de Goiana e suas muitas tradições culturais. Recentemente tem crescido, entre os Goianenses, a compreensão da riqueza de sua cultura, uma cultura criada ao longo da trajetória histórica da cidade que se confunde com a própria história do Brasil. Nas terras de Goiana a história sempre se fez com a participação dos índios, Caeté, Tabajara, Tupinambá, Tapuia, Canidé e muitos outros. Essa participação foi de várias maneiras, ora na guerra, ora na cooperação com os outros grupos que vieram do outro lado do oceano e, na guerra ou na cooperação, terminou por fazer surgir o povo brasileiro.

E nós sabemos que a história pode ser contada de muitas maneiras, sendo que uma delas é a dança. Por isso, quando a gente, lá em Goiana, assiste a passagem de um grupo de caboclos, o que a gente vê é um pedaço da história do Brasil, a história antiga do Brasil, sendo contada. Ali nós podemos aprender como se organizavam os primeiros habitantes do Brasil, aprendemos que nós tínhamos um governo na pessoa do Cacique; uma religião, na figura do pajé; uma família social comandada pela Cacica e também guerreiros jovens e bonitos que defendiam os mais fracos.

As ruas de Goiana e as ruas de todas as cidades nos mostram o resultado do trabalho do pedreiro, do encanador, do engenheiro, do padeiro, do marceneiro, do carpinteiro, do serralheiro, etc. Quero dizer que todas as ruas das nossas cidades são sinais da história dos nossos antepassados, são resultado dos trabalhos de nossos avôs e avós, de nossos pais e mães, de nossos tios e tias e de todas as nossas famílias. Mas Em Goiana, além disso, o desfile dos caboclinhos conta a história dos nossos pais e mães mais antigos.

O Programa Canavial quer hoje fazer uma homenagem especial ao Caboclinho Cahete de Goiana que neste dia 16 de dezembro de 2009 completou 105 anos de vida, pois desde 16de dezembro de 1904, essa tribo vem contando história antiga do Povo Brasileiro enquanto está fazendo a sua história contemporânea.
Parabéns ao CABOCLINHO CAHETE DE GOYANA.
Viva o Povo Brasileiro.

ps. Escrito para os programas dos dias 18 e 19 de dezembro de 2009.