sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal

NATAL

Severino Vicente da Silva


Enquanto o vento sopra as folhas da cana verde e caminhões e tremiões correm dos canaviais queimados em direção das usinas, podemos ouvir as conversas sobre as festas de Natal. O natal é a festa do nascimento do Menino Jesus, o filho de Deus e de Maria. O filho de Deus nasceu em um lugar pobre, uma gruta que servia de proteção para os animais em época de frio, como na noite em que o Menino Jesus Nasceu. Essa gruta ficava fora da cidade, um lugar de difícil acesso. Um dos mistérios mais bonitos do Natal é que nós festejamos o nascimento de um pobre. Outro mistério do Natal é o aparecimento de três reis que estão à procura do lugar onde nasceu a criança que será o maior de todos os reis, segundo esses sábios que vieram trazer presentes para ele. Como é bonito esse mistério: reis, de muita sabedoria, vêm prestar homenagem a uma criança pobre, e trazem para elas presentes dignos de reis.
Na tradição da cultura de nossos pais e avós, a festa de Natal era realizada na frente da Igreja, com uma missa rezada à meia noite e, depois as pessoas iam para suas casas. Mas também havia a dança do Pastoril, com as meninas-moça, vestidas de pastoras dos cordões Encarnado e Azul, cantando as jornadas até o dia 6 de janeiro, o dia dos Santos Reis Magos. Antes de chegarem à gruta onde estava a criança, os Magos passaram na casa do rei Herodes que queria saber onde estava a criança para poder matá-la. Desconfiados, os Reis Magos não voltaram a falar com Herodes e assim salvaram a criança daquele malvado.
Na Zona da Mata, onde os sítios estão se acabando e as cidades crescendo sem muita ordem, todo o tempo tem Menino Jesus nascendo, trazendo novas esperanças para todas as famílias. Tem estrelas brilhando, iluminando o caminho para que cheguem boas notícias com os Reis Magos. No dia 23 dezembro, os jornais informaram que um cortador de cana, nos canaviais de Palmares, Jonas Lopes da Silva passou no vestibular da Universidade de Pernambuco e vai estudar medicina. Ele diz “ minha mãe foi acabada pela cana de açúcar. Foi massacrada pelo destino. (...) e quando meu pai me disse que se eu não estudasse eu iria cortar cana, fiquei danando.” E esse conselho do pai e essa raiva fizeram Jonas estudar.
O Programa Canavial deseja um Feliz Natal para todos os rapazes e moças, a todos os pais e mães de todas as famílias da Zona da Mata, especialmente lembrando que Jonas, neste Natal está sendo um rei que nos dá de presente a sabedoria de sua experiência: é pela cultura e pela educação que vamos nos livrar dos planos de Herodes.

Enquanto os caminhões e tremiões passam em direção das usinas ou dos canaviais, a gente continua se preparando para a festa do Natal. A gente, que como o Menino Jesus, nasceu pobre

Escrito para os programas dos dias 25 e 26 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Caboclinhos Cahetes de Goyana

CABOCLINHO CAHETES

Severino Vicente da Silva

São muitas as razões para que os pernambucanos tenham orgulho de sua história, e entre esses motivos podemos mencionar o município de Goiana e suas muitas tradições culturais. Recentemente tem crescido, entre os Goianenses, a compreensão da riqueza de sua cultura, uma cultura criada ao longo da trajetória histórica da cidade que se confunde com a própria história do Brasil. Nas terras de Goiana a história sempre se fez com a participação dos índios, Caeté, Tabajara, Tupinambá, Tapuia, Canidé e muitos outros. Essa participação foi de várias maneiras, ora na guerra, ora na cooperação com os outros grupos que vieram do outro lado do oceano e, na guerra ou na cooperação, terminou por fazer surgir o povo brasileiro.

E nós sabemos que a história pode ser contada de muitas maneiras, sendo que uma delas é a dança. Por isso, quando a gente, lá em Goiana, assiste a passagem de um grupo de caboclos, o que a gente vê é um pedaço da história do Brasil, a história antiga do Brasil, sendo contada. Ali nós podemos aprender como se organizavam os primeiros habitantes do Brasil, aprendemos que nós tínhamos um governo na pessoa do Cacique; uma religião, na figura do pajé; uma família social comandada pela Cacica e também guerreiros jovens e bonitos que defendiam os mais fracos.

As ruas de Goiana e as ruas de todas as cidades nos mostram o resultado do trabalho do pedreiro, do encanador, do engenheiro, do padeiro, do marceneiro, do carpinteiro, do serralheiro, etc. Quero dizer que todas as ruas das nossas cidades são sinais da história dos nossos antepassados, são resultado dos trabalhos de nossos avôs e avós, de nossos pais e mães, de nossos tios e tias e de todas as nossas famílias. Mas Em Goiana, além disso, o desfile dos caboclinhos conta a história dos nossos pais e mães mais antigos.

O Programa Canavial quer hoje fazer uma homenagem especial ao Caboclinho Cahete de Goiana que neste dia 16 de dezembro de 2009 completou 105 anos de vida, pois desde 16de dezembro de 1904, essa tribo vem contando história antiga do Povo Brasileiro enquanto está fazendo a sua história contemporânea.
Parabéns ao CABOCLINHO CAHETE DE GOYANA.
Viva o Povo Brasileiro.

ps. Escrito para os programas dos dias 18 e 19 de dezembro de 2009.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Parabéns, Mestre Calu

PARABÉNS MESTRE CALU

Severino Vicente da Silva



A televisão chegou a Pernambuco no inicio da década de 1960. E mesmo assim não foi de uma vez em todos os lugares, porque a maior parte do nosso estado nem tinha luz elétrica. Até bem pouco tempo os engenhos e alguns povoados tinham a eletricidade produzida por uma bomba, e só funcionava uma parte da noite. A pessoa que tomava conta da bomba era tão importante que ainda hoje, no Cavalo Marinho, tem uma figura que o Mateus vai chamar, porque sem ele não tem a festa, fica tudo no escuro. Pois bem, como não tinha luz elétrica, não tinha televisão, o povo se divertia com a sua cultura, com as suas brincadeiras. Uma dessas brincadeiras é o Mamulengo.

Ali, no fim da rua, às vezes perto da Igreja, se arrumava o Mamulengo, que o pessoal também chamava de Babau. Era organizado um pequeno teatro, com um pano separando os assistentes dos artistas que iam contar e mostrar as histórias. Todo mundo ia se divertir com as histórias que eram contadas, quase sempre falando de discussões entre os homens por causa de mulheres, e podia aparecer o soldado, o padre, os doutores e tantas personagens quantos fossem os bonecos que o mestre trouxesse na sua mala. Eram muitas histórias e o povo “morria de rir”, porque eram histórias parecidas com as que ele vivia no seu dia a dia, ou ouvia contar.

O Mamulengo era o cinema, a televisão, o teatro de bonecos que enchia as noites depois das novenas. Os mais jovens podem perguntar para os mais velhos pra ver se eu estou mentindo. Tem muita gente que está me ouvindo que, sabendo onde tinha, não perdia a apresentação dos bonecos de mamulengo. Aposto que João Limoeiro, Mestre Zé Duda e muitos outros podem contar o que estou dizendo aqui.

Na cidade de Vicência tem um mamulengueiro famoso que ainda se apresenta com o seu MAMULENGO FLOR DO JASMIM. É o seu Antonio Joaquim Santana, o mestre Calu. No dia 12 de agosto ele completou 54 anos, pois nasceu em 1945, mas está como Mestre Mamulengueiro desde 1976, quando seu pai, o José Joaquim Santana morreu. Ou seja, faz 33 anos que Mestre Calou está à frente do Mamulengo Cor de Jasmim, mas esse mamulengo já era de seu pai. Aliás, Calu era o apelido de seu pai que passou para o filho.

O Mestre Calou apresentava o Mamulengo em toda a região, nos engenhos, nos sítios. Hoje o tempo está um pouco mudado, e o Mestre Calu continua a representar a sua arte, concorrendo com a televisão e as bandas que fazem tanto barulho que não deixam mais a gente ouvir as histórias dos bonecos. Mas Mestre Calu, como o povo, é teimoso e continua a se apresentar.

Nesse mês da Cultura, o programa Canavial fica feliz com mais um aniversário do Mestre Calu, e deseja que ele e seu grupo, que é formado por Estevão, Cosmo Mulungu, Tetêu do triângulo, Zé do Cavaco e Jorge da Bagé, continuem a manter acesa a arte dos bonecos. Parabéns ao Mestre Calou e a todos os Mestres de Babau da nossa Zona da Mata Norte.

ps. Editorial escrito para o Programa Canavial dos dias 22 e 23 de agosto de 2009.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Direitos humanos

DIREITOS HUMANOS
Severino Vicente da Silva

Nos dias de hoje uma palavra que escutamos muito é a palavra “direitos humanos”, e ela nos ajuda a abrir caminho no imenso canavial que é a vida a gente. Mas houve um tempo, no passado, que “direito” era uma palavra pouco usada. A não ser quando ela vinha para dizer que “fulano de tal é bacharel em direito”. Em vez de direito, era mais comum se ouvir “privilégio”, “regalia”. No passado os pobres não tinham muito direito. Os mais pobres tinham muita obrigação.

A gente mais nova não pára para pensar, mas os mais antigos nem sempre tinham direito de morar, de ter um lugar seu, especialmente se fosse morador de um engenho ou sítio. Quando o dono da propriedade queria, mandava o morador sair e derrubava a casa. Havia tão poucas escolas que, na verdade, os pobres não tinham direito à educação. Hospital, médico, remédio, o direito a esses serviços não existia. Por isso é que muitos pobres ficavam com uma gratidão infinita quando alguém os levava ao hospital e, por causa disso votava naquela pessoa para qualquer cargo. Era uma vergonha, os mais ricos se aproveitando da miséria dos mais pobres, não lhes reconhecendo os direitos, mas dizendo que era um privilégio.

Os Direitos são coisas que são nossas, como o direito à vida, o direito à alimentação, o direito de não ser espancado, o direito de andar livremente na rua. Ninguém pode negar esses direitos aos outros. Agora é claro que todos temos o dever de respeitar os direitos dos nossos vizinhos, dos nossos filhos, dos nossos alunos, dos nossos professores, dos nossos empregadores, os nossos empregados, etc. Na verdade, a vida só é possível porque nós temos direitos e deveres e a vida fica mais bonita quando todos respeitam os direitos de todos.

No dia 10 de dezembro de 1948 a Organização das Nações Unidas publicou uma Declaração Universal dos Direitos Humanos. O Brasil assinou essa declaração e se comprometeu em fazer com que todos os habitantes no território brasileiro tivesse os seus direitos respeitados, entre eles o direito ao trabalho, o direito de constituir uma família e muitos outros.

O Programa Canavial nesta semana deseja lembrar que todos nós temos direitos, inclusive o direito de ter acesso à cultura e o direito de ser feliz. Por essa razão o Programa Canavial deseja que cada um dos ouvintes lembre-se de respeitar o direito do outro.

ps. Editorial escrito para os programas dos dias 11 e 12 de dezembro de 2009.

sábado, 5 de dezembro de 2009

As devoções do povo da mata

O início do mês de dezembro é apresentado como um momento de trocas de presentes. Também é mês de louvação ao nascimento do menino Jesus e em torno dele as homenagens à sua mãe. Maria, esse nome ficou muito famoso e é um dos mais comuns. Praticamente em todas as nossas casas há uma Maria. E são muitas as Marias: Maria da Soledade, Maria do Amparo, Maria Anunciada, Maria José, Maria Aparecida, Maria da Saúde, Maria do Céu, Maria da Penha, Maria do Bom Parto, Maria das Neves, Maria do Ò, Maria do Carmo, Maria do Rosário, Maria Olindina, Maria das Graças, Maria de Lourdes, Maria Flor, são muitas Marias.
Algumas de nossas cidades estão ligadas a Maria a mãe de Jesus. É, por exemplo, o caso de Nazaré da Mata e Goiana, que esta semana estão fazendo homenagem a sua protetora. E no Recife, tem a grande festa de Nossa Senhora do Morro da Conceição em Casa Amarela, no Recife, lugar onde vive muita gente que nasceu na região da Mata Norte.
Mas há uma invocação a Maria que talvez seja a mais popular de todas, e essa é a Maria da Conceição, a Nossa Senhora da Conceição. Um dia, conversando com João Vicente da Silva, descobri que a sua madrinha se chama Nossa da Conceição, a mãe de Jesus. Depois verifiquei que são muitos os pobres que escolheram a Conceição como sua madrinha. Tem gente que é tão pobre que não consegue madrinha para seu filho e então pode a Senhora da Conceição que tome conta do seu filho.
Além disso, se a gente olhar direitinho, em quase todas as casas há um retrato de uma mulher que lembra Maria; E também lembra também outra mulher, um espírito indígena que, segundo crença de muitos, protege as águas dos rios; os índios a chamam de Iara e está relacionada ao culto da Jurema. E também tem a imagem de Iemanjá, a mulher sagrada que protege as águas e está mais ligada aos brasileiros de religião de origem africana.
Todas essas imagens de mulher forte, protetora, amiga, todas elas são celebradas no dia 8 de dezembro. O programa Canavial deseja a todas as cidades que celebram a sua padroeira nesse início de dezembro e a todas as Marias, Iaras e Iemajás muitas felicidades.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Festival Canavial e o Mérito Cultural

EDITORIAL 42

FESTIVAL CANAVIAL E O MÉRITO CULTURAL

Caros ouvintes,

Estamos na segunda semana do Festival Canavial, que vem sendo realizado em áreas das cidades de Vicência, Nazaré da Mata, Goiana, Aliança e Condado. O cordelista Costa Leite, residente em Condado, já fez palestras e leu seus folhetos para jovens em Vicência e no Assentamento Margarida Alves, em Aliança, nos mesmos dias em que as nossas educadoras realizaram oficinas de leitura no ônibus Biblioteca. Essa viagem está ocorrendo hoje, sexta feira, em Nazaré da Mata e ainda vai acontecer em Condado e no Sítio Chã de Camará.

Nesta semana, Condado recebeu a visita dos Caretas e da Escola de Samba Labariri, vindas de Pesqueira; e Vicência, no dia que homenageia Zumbi dos Palmares e toda a nossa tradição originária da África, realizou um Encontro de Coco, com grupos vindos de Olinda, Cabo, Pesqueira, além dos grupos de Nazaré da Mata, Aliança e Goiana. Estamos realizando uma grande festa da cultura brasileira.
Mas também os nossos mestres de Maracatu e mestres de Caboclinhos estão fazendo aulas espetáculo nas escolas públicas de Nazaré da Mata e Goiana. Foram dezesseis escolas visitadas, e nelas cada mestre contou a história do Maracatu e a história do Caboclinho, e também a história da sua nação. No Festival Canavial estamos celebrando, aprendendo e ensinando a nossa história, a história da cultura brasileira.

Neste final de semana ainda teremos outras atividades, outras atrações, outros momentos de estudo. Receberemos a visita de professores de universidades para conversar com os mestres da cultura e teremos encontros dos Maracatus e dos Mestres da Jurema Sagrada, neste domingo, dia 28 no Baldo do Rio, em Goiana.
E devemos comemorar o fato de o Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, no dia 25 de novembro, ter recebido a ORDEM DO MÉRITO CULTURAL. Este anos foram cinqüenta os homenageados e, de Pernambuco também foram agraciados o Balé Popular do Recife e o Mamulengo Só-Riso. O Programa Canavial parabeniza a todos, especialmente ao Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, o primeiro a receber essa Odem do Mérito concedida pelo Ministério da Cultura. A cerimônia de entrega ocorreu no Rio de Janeiro e contou com a participação do Presidente da República.

Parabéns ao Estrela de Ouro de Aliança e a todos os maracatus de Baque Solto de Pernambuco por esse reconhecimento nacional.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

20 de novembro - início do festival canavial

EDITORIAL 41

20 DE NOVEMBRO – INÍCIO DO FESTIVAL CANAVIAL

Severino Vicente da Silva

Caros ouvintes do Programa Rádio Canavial,

Começa hoje (começou ontem) a Festival Canavial. Este ano, como dissemos na semana passada, ele acontece nas cidades de Nazaré da Mata, Vicência, Aliança, Condado e Goiana. Serão realizadas apresentações de grupos de algumas das tradições populares que nós, o povo brasileiro, temos criado nesses quase duzentos anos de nossa existência como Estado, tradições de danças, de músicas, de poesia, de teatro de bonecos chamados manulengos. Mas também serão feitas ações de reflexão, oficinas de artesanatos diversos e debates entre os mestres da cultura brasileira, uma cultura mais feita pelos mais pobres e a outra cultura, dita erudita. E os mestres da Cultura darão aulas sobre as tradições do Maracatu Rural e dos Caboclinhos.

No dia 19, um dia antes do início do festival, nós celebramos 120 anos da Bandeira do Brasil, ela que nos indica que o Brasil decidiu ser uma República. O Brasil decidiu que não quer reis e que todos nós somos cidadãos e ninguém é melhor que ninguém. A idéia principal de uma República é que todos nós somos cidadãos, todos nós iguais e o que faz a diferença é a capacidade de cada um. E no dia 20 de novembro, dia em que tem início o nosso Festival Canavial, nós celebramos a memória de Zumbi dos Palmares, um negro brasileiro que nasceu livre nas matas brasileiras. Zumbi é Herói de todos os brasileiros porque ele lutou pela liberdade e não aceitava a idéia de que um pudesse ser dono de outro homem, nem de mulher, nem de criança.
O primeiro fim de semana do Festival Canavial acontece no Ponto de Cultura Engenho Poço Comprido, que fica na área rural da cidade de Vicência. Naquele lugar tem duas árvores que são conhecidas com o nome de Baobás. Os Baobás são árvores sagradas, que crescem para dentro da terra e seus galhos parecem que são raízes na direção do céu. As sementes dos Baobás de Poço Comprido vieram da África, e, com certeza, foram trazidas escondidas por algum africano que foi aprisionado, talvez por outros africanos, e foi vendido como escravo aos comerciantes que o trouxeram para o Brasil. É possível que ele tenha sido comprado no antigo Porto de Pernambuco que ficava ali em Itamaracá e foi caminhando acorrentado até o lugar onde ele finalmente cavou dois buracos e colocou as sementes da terra de onde ele veio.

As sementes morrem para dar vida a árvore. Assim ele sabia que, mesmo escravo, vivendo em uma terra distante, mas que passou a ser sua porque ali ele plantou um pedaço de sua terra de origem, do tempo em que era livre. Hoje, muitos anos depois, vamos começar o Festival Canavial louvando a República e a Bandeira brasileiras que estamos construindo, cantando e dançando em homenagem a esse nosso antepassado que carregava a semente do Baobá, a semente da árvore da liberdade nas terras de nossas vidas. Como a Bandeira que aponta para o céu da liberdade.

Viva o Festival Canavial, Viva Zumbi dos Palmares, Viva o Povo Brasileiro.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Festival Canavial

FESTIVAL CANAVIAL

Severino Vicente da Silva

Caros Ouvintes

Nas próximas semanas será realizado nas cidades de Nazaré da Mata, Vicência, Aliança, Condado e Goiana o Festival Canavial. Este festival já está fazendo parte da nossa vida cultural, a vida cultural da Mata Norte. Ele sempre é feito com novidades. Este ano, uma das novidades é que ele não acontece em uma cidade apenas, mas em cinco, desde o vinte de novembro até o dia 5 de dezembro. Outra novidade é em cada cidade, a produção dos eventos está sendo feita por pessoas do lugar, jovens que completaram o curso de Produção Cultural, que o movimento canavial ofereceu em Nazaré da Mata. Neste Festival eles irão demonstrar na prática o que aprenderam, completarão o seu curso.
Fui pesquisar no dicionário o significado da palavra Festival. Esta é uma palavra que tem muitos sentidos. Disse que é uma festa composta de muitas atividades que concorrem para fazer a alegria dos que vão participar; outro sentido é que é uma festa cívica, ou seja, é uma festa que é realizada para homenagear a cidade onde ocorre o festival; também significa festas escolares ou festas comemorativas de alguma colheita. Mas Festival também significa uma coroa de flores que coloca na entrada de uma cidade ou de uma casa onde está acontecendo a festa.
Vejam que coisa! Nós iremos nessas duas semanas seguintes fazer uma Festival que é uma homenagem às nossas cidades, e esse festival ocorre num período em que estamos fazendo a colheita da cana de açúcar. Este ano o festival Canavial, além de acontecer nas sedes dos municípios, ocorrerá em sítios e povoados. Toda a cultura do povo brasileiro vai ser apresentada, pois vai ter artistas do Rio de Janeiro, de Alagoas e também do Cabo de Santo Agostinho, de Olinda, Pesqueira, Recife, além dos artistas de nossa região. E outra novidade é que vai ter um ônibus-biblioteca que vai promover leituras, concursos de redação, palestras e brincadeiras com crianças e jovens. E também haverá oficinas para quem quiser começar os estudos para se tornar artesão. Além disso, vai haver vários encontros dos Mestres da Cultura da região com mestres de outras partes do Brasil, porque o Festival Canavial é essa Coroa de Flores formadas por nossos músicos, repentistas, poetas, dançarinos, figureiros, artesões, produtores culturais.
O programa Canavial convida a toda região para participar das atividades do Festival Canavial. Procure saber a programação de sua cidade, ou da cidade vizinha à sua e vá conhecer o trabalho cultural da nossa região, algumas das nossas criações culturais, as criações culturais do Povo Brasileiro.


Editorial para os programas dos dias 13 e 14 de novembro de 2009.

sábado, 7 de novembro de 2009

Saudação aos novos pontos de cultura

SAUDAÇÃO AOS NOVOS PONTOS DE CULTURA

Severino Vicente da Silva


Amigos ouvintes do Programa Canavial


Este final de semana tem dois motivos de alegria, além de continuarmos alegres por termos ido até Pesqueira, na semana passada para a inauguração do Ponto de Cultura ORORUBÁ. Esse nome Ororubá foi escolhido porque Pesqueira nasceu e cresceu no pé da Serra do Ororubá, onde vivem os índios Xucuru, parte da tradição que acompanha os mestres do Coco Cancão Pio, das Cambindas Velhas, dos Caipora e da Escola de Samba Labariri. As alegrias desse final de semana é a inauguração dos Pontos de Cultura ENGENHO DOS MARACATUS, em Nazaré da Mata e CABOCLINHOS DE GOIANA, em Goiana.
Uma vez eu li em um livro que a criação da solidariedade no Brasil, especialmente na Mata Norte, é uma invenção dos mais pobres, dos trabalhadores, dos que nada possuem a não ser o seu corpo e a sua imaginação. Pois bem, esses três pontos de cultura, ligados ao Movimento Canavial, são formados pelo companheirismo, pela solidariedade e cooperação de vários grupos. É assim, que pouco a pouco, vamos reconstruindo e renovando a nossa cultura, uma cultura enraizada na cooperação e não na competição.
Uma das belas tradições do Maracatu de Baque Solto é que quando ele foi sendo criado não tinha como objetivo ser melhor do que outros nem ganhar concursos. Os primeiros maracutus de caboclos saiam para desfilar nas ruas dos povoados e nos terreiros das casas. Esse negócio de concurso para ganhar prêmios veio depois. Também os caboclinhos, que os livros dizem ter começado no tempo em que chegaram aqui os primeiros portugueses, começou da dança dos curumins para alegrar a vida nas tabas e nos terreiros das igrejas onde eram catequizados. Nesses dois casos o objetivo era conseguir a alegria para quem brincava dançando e a alegria para quem brincava olhando os passos que simulam uma guerra e mostram a beleza e a agilidade dos corpos vivos e saudáveis. Em todas essas danças, em todos esses movimentos, estão sendo contados pedaços da história do Brasil, da história de Pernambuco, da história de nossa região. A dança dos Caboclinhos de Goiana contam como eram alegres s tempos mais antigos do povo brasileiro, mas que também era um tempo de confronto e de batalhas; a dança do Maracatu de Baque Solto, esse maracatu que foi criado e continua sendo renovado pelos trabalhadores dos engenhos e das usinas, conta a história dos desejos desses trabalhadores de serem reconhecidos criadores e construtores de um mundo carregado das raízes que fazem o povo brasileiro, desde quando acolheu o português e o auxiliou no corte do pau-brasil, passando pelo acolhimento das tradições trazidas pelos africanos escravizados e que, com os índios e caboclos, juntaram-se para fazer essa beleza de dança e de cores, que é a cara da gente.
Este final de semana o Programa Canavial saúda os novos Pontos de Cultura, desde o Agreste até a nossa Zona da Mata, que continuam a criar e recriar a cultura da gente, a cultura brasileira.

ps. Editorial escrito para os programas dos dias 6 e 7 de novembro de 2009.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Aula-espetáculo de maracatu nas escolas

Editorial para o Programa Canavial dos dias 30 e 31 de outubro

Caros ouvintes,


Todos os anos, nos dias de carnaval, nós nos acostumamos a ver desfiles de maracatus. Esses desfiles são conhecidos como Encontros de Maracatus. Vem muita gente assistir, e todo mundo acha bonito, tira foto, mas será que a gente sabe o que significa esse desfile, de onde vieram os caboclos, porque tem caboclos de lanças e porque tem caboclos que tem chapéus feitos de pena? E será que a gente sabe quem inventou as roupas que os caboclos vestem? E por que será que o caboclo usa lança e o índio tem uma machada na mão?

Estão vendo quantas coisas a gente vê e não sabe bem de onde vem? Pois é, essas invenções da gente, essas criações do povo brasileiro não são ensinadas nas escolas! As escolas da gente deviam ensinar mais sobre as invenções que os nossos antepassados, nossos pais criaram. Como não ensinam, as crianças saem da escola sem sabe o que é um Cavalo Marinho, de onde vem a Ciranda, como foi sendo criado o maracatu e tantas outras coisas da nossa cultura. Tem gente que sabe tudo sobre a história de outros países e outros povos, e não sabe nadinha, nadinha da história da cultura da cidade onde mora.

Ia ser tão bom que as escolas ensinassem mais sobre a nossa cultura!

Pensando nisso é que os mestres do Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança começaram a visitar as escolas e fazer uma aula espetáculo em algumas escolas da cidade. Essa idéia agora vai ser posta em prática em escolas na cidade de Nazaré da Mata. Os maracatus Águia Dourada, Leão Misterioso, Leão Cultural e Coração Nazareno vão, durante o mês de novembro fazer aula espetáculo em doze escolas da cidade. Eles vão se apresentar, mas vão dizer tin-tin por tin-tin o significado das roupas, das cabeleiras, dos instrumentos que são usados quando o maracatu sai para desfilar.

Assim, já no carnaval do ano que vem, muitas crianças e muitos rapazes e moças vão entender melhor o desfile dos caboclos. E os professores desses alunos também. Eles vão saber que o desfile de um maracatu de baque solto é uma aula de História do Brasil. Assim, de tiquin em tiquim, a gente vai aprendendo e ensinando a história do maracatu, que é parte da história de nossas cidades, e que é parte da história de Pernambuco e é parte da história do Brasil. E uma das primeiras lições que os mestres vão ensinar é que esse nosso maracatu, o Maracatu de Baque Solto foi criado depois que acabou a escravidão. Essa não é uma brincadeira de escravos, não é uma brincadeira que nasceu nas senzalas. E a gente deve ter orgulho de saber que a principal tradição da Zona da Mata Norte é uma tradição criada por homens trabalhadores e livres.

Tomara que essas aulas também aconteçam nas outras cidades da nossa região. Assim vai ser mais fácil explicar aos visitantes porque a gente tem tanto caboclo por aqui!

Viva a dança livre do caboclo de lança que agora está chegando nas escolas.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Plantando na Mata

PLANTANDO MATA


A gente está sempre recriando a vida, mesmo quando a gente se senta em um banco de praça ou em um pedaço de coqueiro, e ficamos assim, cubando a vida, pensando no que já fizemos e no que ainda iremos fazer. Pode ser que a gente não faça tudo que deseja, mas, como é bom desejar, sonhar!
E como a gente sonha, e a vida da gente pode ser do tamanho do sonho que a gente tem, esse calor me fez sonhar com um conselho do Padim Ciço.
Todos os anos tem gente daqui, da nossa cidade, que realiza o sonho de ir até o Juazeiro do padrinho Cícero Romão, dizer umas preces e voltar para a luta de conquistar a vida cada dia da semana.
Uma das coisas bonitas do Juazeiro do Padim Ciço é o horto, aquelas árvores. Elas não existiam ali, mas o Padim mandou plantar porque ele sempre soube que a sua gente precisa de sombra para descansar um pouco. O Padim dizia que se cada um plantasse uma árvore o deserto do sertão ia se acabar. Imagine isso aqui!
Na terra que a gente mora antigamente havia muitas árvores. Por isso toda essa região era chamada de Nazaré da Mata!
Mas as árvores foram derrubadas para plantar cana ou para fazer navios. E as ruas da cidade quase que não tem árvore, quase não tem sombra e é um calor enorme, que a gente não agüenta mais. Por isso, o Programa Canavial está sugerindo que os gostam do padim Ciço plantem uma planta, um pé de árvore na frente de sua casa em homenagem a ao santo do Juazeiro. A gente cuida dela, ela vai crescer e a rua da gente vai ficar bonita, a cidade da gente vai ficar bonita.

domingo, 30 de agosto de 2009

Dia da mulher

DIA DA MULHER


Estamos na primeira semana de março e as chuvas indicam que os agricultores vão ter um bom tempo e nem foi necessário esperar para o dia de São José. Este será um ano bom e, com as bênçãos de São João do Carneirinho teremos milho para as pamonhas e canjicas.

Mas esse início de março também deve nos lembrar que este é o mês dedicado às mulheres. Um grupo de mulheres criou a Mata, a Associação das Mulheres de Nazaré da Mata, a AMUNAM, elas decidiram fazer um movimento para fazer diminuir a violência contra as mulheres, que tem sido uma marca negativa de nossa região, elas se organizaram para dizer que a gente pode ser melhor e mais feliz.

A gente que é artista, criador de poesia, criador de versos, cantadores das belezas de nossas terras, dos céus estrelados e do verde dos canaviais, apesar de tudo que a gente e nossos antepassados já sofremos, não tem sentido a gente ser violento com os filhos e com as mulheres da gente. A gente tem que usar a beleza do Maracatu, o mistério do Cavalo-Marinho, o ritmo do Coco, o balanço da Ciranda para fazer esse mundo em que a gente vive melhor.

Agora que passou o carnaval, e a gente mostrou a beleza de nossa cultura, é tempo da gente fazer a vida da gente mais bonita, mais alegre e mais amigável.

O Programa Canavial deseja que este seja o mês de tranqüilidade de nossas mães, nossas esposas e nossas filhas.

Viva o dia 8 de março, o dia das nossas mulheres!!!

O4/03/09

A cultura do ano todo

Há um frevo que canta a tristeza que vem com a quarta-feira de cinzas, porque ela anuncia o fim do carnaval, momento que havia sido esperado por 360 dias. Acontece que, ao chegar a nova quarta-feira de cinzas tem início mais uma contagem para o próximo Sábado de Zé Pereira anunciando o novo carnaval.
Entretanto, a vida não é apenas carnaval, nem vivemos apenas de nossa participação nos eventos carnavalescos. Ao longo do ano existem cinqüenta semanas que utilizamos para prover as nossas famílias com alimentos e carinhos. Essas semanas serão ocupadas com a produção de nossas artes com cerâmica, com tecidos, com fibras de vegetais, com madeira, com ferro, pois a cultura da Zona da Mata não é formada apenas com as danças dos caboclinhos, dos maracatus, dos bois, das burrinhas e ursos; na verdade, essas e outras danças e teatros como o Cavalo Marinho ou Bumba meu Boi, necessitam das artes da costura, do bonequeiro, dos artesões como um todo. Uma arte nunca existe só por ela, mas a sua existência, a sua permanência só é possível relacionada com as outras artes.
Como montar um banco de Cavalo Marinho sem os artesões que fabricaram os pandeiros, a rabecas, vagens, e todos os instrumentos que são utilizados em todas as outras manifestações de nossa cultura?
Agora que passou o carnaval, é tempo de continuar a transmitir para os mais jovens os segredos de nossa cultura, os versos das figuras, os baques dos maracatus, os movimentos dos caboclos e caboclinhos, as histórias que vieram desde os primeiros tempos das senzalas e, mas antigas ainda, das tribos indígenas dos nossos antepassados. Fazemos isso nas sambadas, nos ensaios e nas apresentações em nossos terreiros ou nos terreiros dos outros, quando somos convidados.
Assim, alegres pelas conquistas, saudamos a todos os maracatuzeiros da Zona da Mata, desde os mais simples até os mais famosos, porque todos nós somos formosos. Parabéns aos caboclos de todas as tribos, das Estrelas, dos Leões, das Águias, das Cambindas, das Piabas, Pavões, Cruzeiros, Sonhos.
Viva o Povo Cultural dos Canaviais.

Primeiro Editorial

EDITORIAL
(para o primeiro programa)

Caros Amigos,

Iniciamos hoje uma nova etapa em nossas relações. É que a gente tem se encontrado de maneira informal, a gente se encontra nas ruas, a gente se encontrou no Festival Canavial, a gente se encontrou nas festas de carnaval e muitas outras. Fazemos parte desse canavial.
O canavial que arrodeia nossas cidades tem sido o lugar de onde muitos de nós tiramos o sustento para as nossas famílias, e isso custa muitas horas e dias de trabalho. Nossos avós já viviam nesses canaviais que foram sendo plantados desde muito tempo. Desde o tempo em que o Brasil ainda não era Brasil.
Houve um tempo que nossos antepassados trabalhavam como escravos nesses canaviais. Embora a situação tenha mudado um pouco, ás vezes a gente chega a pensar que o canavial é um inferno verde.
Uma coisa interessante desse PROGRAMA RADIO CANAVIAL é que ele não acontece somente aqui, mas nas cidades de Nazaré da Mata, Aliança, Vicência e Goiana. A cada semana, nessa hora, nós vamos conversar sobre a nossa vida, os nossos costumes, as nossas brincadeiras, e sobre gente que a gente conhece; ou seja, esta vai a ser a hora da gente conversar sobre a nossa cultura: a Cultura que nasce do trabalho das pessoas que trabalham nos canaviais. E, claro, vamos ouvir a nossa música, a música de nossos artistas, de nossos cantores, dos mestres de nossos maracatus e de nossas cirandas.
O PROGRAMA CANAVIAL é parte de um movimento que está acontecendo na Mata Norte. Um movimento cultural que envolve Pontos de Cultura e os artistas da região. Aqui, a cada semana, a gente vai saber o que a nossa gente estão fazendo os pontos de cultura, onde os nossos artistas estarão se apresentando e vamos ouvir o que eles pensam sobre essa nossa vida.
A gente espera, deseja e quer que você ouça nosso PROGRAMA CANAVIAL, telefone, escreva, nos dê sugestões.
Lembre-se: o PROGRAMA CANAVIAL é um novo vento sobre a Zona da Mata Norte.