PARABÉNS MESTRE CALU
Severino Vicente da Silva
A televisão chegou a Pernambuco no inicio da década de 1960. E mesmo assim não foi de uma vez em todos os lugares, porque a maior parte do nosso estado nem tinha luz elétrica. Até bem pouco tempo os engenhos e alguns povoados tinham a eletricidade produzida por uma bomba, e só funcionava uma parte da noite. A pessoa que tomava conta da bomba era tão importante que ainda hoje, no Cavalo Marinho, tem uma figura que o Mateus vai chamar, porque sem ele não tem a festa, fica tudo no escuro. Pois bem, como não tinha luz elétrica, não tinha televisão, o povo se divertia com a sua cultura, com as suas brincadeiras. Uma dessas brincadeiras é o Mamulengo.
Ali, no fim da rua, às vezes perto da Igreja, se arrumava o Mamulengo, que o pessoal também chamava de Babau. Era organizado um pequeno teatro, com um pano separando os assistentes dos artistas que iam contar e mostrar as histórias. Todo mundo ia se divertir com as histórias que eram contadas, quase sempre falando de discussões entre os homens por causa de mulheres, e podia aparecer o soldado, o padre, os doutores e tantas personagens quantos fossem os bonecos que o mestre trouxesse na sua mala. Eram muitas histórias e o povo “morria de rir”, porque eram histórias parecidas com as que ele vivia no seu dia a dia, ou ouvia contar.
O Mamulengo era o cinema, a televisão, o teatro de bonecos que enchia as noites depois das novenas. Os mais jovens podem perguntar para os mais velhos pra ver se eu estou mentindo. Tem muita gente que está me ouvindo que, sabendo onde tinha, não perdia a apresentação dos bonecos de mamulengo. Aposto que João Limoeiro, Mestre Zé Duda e muitos outros podem contar o que estou dizendo aqui.
Na cidade de Vicência tem um mamulengueiro famoso que ainda se apresenta com o seu MAMULENGO FLOR DO JASMIM. É o seu Antonio Joaquim Santana, o mestre Calu. No dia 12 de agosto ele completou 54 anos, pois nasceu em 1945, mas está como Mestre Mamulengueiro desde 1976, quando seu pai, o José Joaquim Santana morreu. Ou seja, faz 33 anos que Mestre Calou está à frente do Mamulengo Cor de Jasmim, mas esse mamulengo já era de seu pai. Aliás, Calu era o apelido de seu pai que passou para o filho.
O Mestre Calou apresentava o Mamulengo em toda a região, nos engenhos, nos sítios. Hoje o tempo está um pouco mudado, e o Mestre Calu continua a representar a sua arte, concorrendo com a televisão e as bandas que fazem tanto barulho que não deixam mais a gente ouvir as histórias dos bonecos. Mas Mestre Calu, como o povo, é teimoso e continua a se apresentar.
Nesse mês da Cultura, o programa Canavial fica feliz com mais um aniversário do Mestre Calu, e deseja que ele e seu grupo, que é formado por Estevão, Cosmo Mulungu, Tetêu do triângulo, Zé do Cavaco e Jorge da Bagé, continuem a manter acesa a arte dos bonecos. Parabéns ao Mestre Calou e a todos os Mestres de Babau da nossa Zona da Mata Norte.
ps. Editorial escrito para o Programa Canavial dos dias 22 e 23 de agosto de 2009.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
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O JORGE DE BAGÉ, É DA CIDADE DE BAGÉ, RS?
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