quinta-feira, 19 de novembro de 2009

20 de novembro - início do festival canavial

EDITORIAL 41

20 DE NOVEMBRO – INÍCIO DO FESTIVAL CANAVIAL

Severino Vicente da Silva

Caros ouvintes do Programa Rádio Canavial,

Começa hoje (começou ontem) a Festival Canavial. Este ano, como dissemos na semana passada, ele acontece nas cidades de Nazaré da Mata, Vicência, Aliança, Condado e Goiana. Serão realizadas apresentações de grupos de algumas das tradições populares que nós, o povo brasileiro, temos criado nesses quase duzentos anos de nossa existência como Estado, tradições de danças, de músicas, de poesia, de teatro de bonecos chamados manulengos. Mas também serão feitas ações de reflexão, oficinas de artesanatos diversos e debates entre os mestres da cultura brasileira, uma cultura mais feita pelos mais pobres e a outra cultura, dita erudita. E os mestres da Cultura darão aulas sobre as tradições do Maracatu Rural e dos Caboclinhos.

No dia 19, um dia antes do início do festival, nós celebramos 120 anos da Bandeira do Brasil, ela que nos indica que o Brasil decidiu ser uma República. O Brasil decidiu que não quer reis e que todos nós somos cidadãos e ninguém é melhor que ninguém. A idéia principal de uma República é que todos nós somos cidadãos, todos nós iguais e o que faz a diferença é a capacidade de cada um. E no dia 20 de novembro, dia em que tem início o nosso Festival Canavial, nós celebramos a memória de Zumbi dos Palmares, um negro brasileiro que nasceu livre nas matas brasileiras. Zumbi é Herói de todos os brasileiros porque ele lutou pela liberdade e não aceitava a idéia de que um pudesse ser dono de outro homem, nem de mulher, nem de criança.
O primeiro fim de semana do Festival Canavial acontece no Ponto de Cultura Engenho Poço Comprido, que fica na área rural da cidade de Vicência. Naquele lugar tem duas árvores que são conhecidas com o nome de Baobás. Os Baobás são árvores sagradas, que crescem para dentro da terra e seus galhos parecem que são raízes na direção do céu. As sementes dos Baobás de Poço Comprido vieram da África, e, com certeza, foram trazidas escondidas por algum africano que foi aprisionado, talvez por outros africanos, e foi vendido como escravo aos comerciantes que o trouxeram para o Brasil. É possível que ele tenha sido comprado no antigo Porto de Pernambuco que ficava ali em Itamaracá e foi caminhando acorrentado até o lugar onde ele finalmente cavou dois buracos e colocou as sementes da terra de onde ele veio.

As sementes morrem para dar vida a árvore. Assim ele sabia que, mesmo escravo, vivendo em uma terra distante, mas que passou a ser sua porque ali ele plantou um pedaço de sua terra de origem, do tempo em que era livre. Hoje, muitos anos depois, vamos começar o Festival Canavial louvando a República e a Bandeira brasileiras que estamos construindo, cantando e dançando em homenagem a esse nosso antepassado que carregava a semente do Baobá, a semente da árvore da liberdade nas terras de nossas vidas. Como a Bandeira que aponta para o céu da liberdade.

Viva o Festival Canavial, Viva Zumbi dos Palmares, Viva o Povo Brasileiro.

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