sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Festival Canavial e o Mérito Cultural

EDITORIAL 42

FESTIVAL CANAVIAL E O MÉRITO CULTURAL

Caros ouvintes,

Estamos na segunda semana do Festival Canavial, que vem sendo realizado em áreas das cidades de Vicência, Nazaré da Mata, Goiana, Aliança e Condado. O cordelista Costa Leite, residente em Condado, já fez palestras e leu seus folhetos para jovens em Vicência e no Assentamento Margarida Alves, em Aliança, nos mesmos dias em que as nossas educadoras realizaram oficinas de leitura no ônibus Biblioteca. Essa viagem está ocorrendo hoje, sexta feira, em Nazaré da Mata e ainda vai acontecer em Condado e no Sítio Chã de Camará.

Nesta semana, Condado recebeu a visita dos Caretas e da Escola de Samba Labariri, vindas de Pesqueira; e Vicência, no dia que homenageia Zumbi dos Palmares e toda a nossa tradição originária da África, realizou um Encontro de Coco, com grupos vindos de Olinda, Cabo, Pesqueira, além dos grupos de Nazaré da Mata, Aliança e Goiana. Estamos realizando uma grande festa da cultura brasileira.
Mas também os nossos mestres de Maracatu e mestres de Caboclinhos estão fazendo aulas espetáculo nas escolas públicas de Nazaré da Mata e Goiana. Foram dezesseis escolas visitadas, e nelas cada mestre contou a história do Maracatu e a história do Caboclinho, e também a história da sua nação. No Festival Canavial estamos celebrando, aprendendo e ensinando a nossa história, a história da cultura brasileira.

Neste final de semana ainda teremos outras atividades, outras atrações, outros momentos de estudo. Receberemos a visita de professores de universidades para conversar com os mestres da cultura e teremos encontros dos Maracatus e dos Mestres da Jurema Sagrada, neste domingo, dia 28 no Baldo do Rio, em Goiana.
E devemos comemorar o fato de o Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, no dia 25 de novembro, ter recebido a ORDEM DO MÉRITO CULTURAL. Este anos foram cinqüenta os homenageados e, de Pernambuco também foram agraciados o Balé Popular do Recife e o Mamulengo Só-Riso. O Programa Canavial parabeniza a todos, especialmente ao Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, o primeiro a receber essa Odem do Mérito concedida pelo Ministério da Cultura. A cerimônia de entrega ocorreu no Rio de Janeiro e contou com a participação do Presidente da República.

Parabéns ao Estrela de Ouro de Aliança e a todos os maracatus de Baque Solto de Pernambuco por esse reconhecimento nacional.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

20 de novembro - início do festival canavial

EDITORIAL 41

20 DE NOVEMBRO – INÍCIO DO FESTIVAL CANAVIAL

Severino Vicente da Silva

Caros ouvintes do Programa Rádio Canavial,

Começa hoje (começou ontem) a Festival Canavial. Este ano, como dissemos na semana passada, ele acontece nas cidades de Nazaré da Mata, Vicência, Aliança, Condado e Goiana. Serão realizadas apresentações de grupos de algumas das tradições populares que nós, o povo brasileiro, temos criado nesses quase duzentos anos de nossa existência como Estado, tradições de danças, de músicas, de poesia, de teatro de bonecos chamados manulengos. Mas também serão feitas ações de reflexão, oficinas de artesanatos diversos e debates entre os mestres da cultura brasileira, uma cultura mais feita pelos mais pobres e a outra cultura, dita erudita. E os mestres da Cultura darão aulas sobre as tradições do Maracatu Rural e dos Caboclinhos.

No dia 19, um dia antes do início do festival, nós celebramos 120 anos da Bandeira do Brasil, ela que nos indica que o Brasil decidiu ser uma República. O Brasil decidiu que não quer reis e que todos nós somos cidadãos e ninguém é melhor que ninguém. A idéia principal de uma República é que todos nós somos cidadãos, todos nós iguais e o que faz a diferença é a capacidade de cada um. E no dia 20 de novembro, dia em que tem início o nosso Festival Canavial, nós celebramos a memória de Zumbi dos Palmares, um negro brasileiro que nasceu livre nas matas brasileiras. Zumbi é Herói de todos os brasileiros porque ele lutou pela liberdade e não aceitava a idéia de que um pudesse ser dono de outro homem, nem de mulher, nem de criança.
O primeiro fim de semana do Festival Canavial acontece no Ponto de Cultura Engenho Poço Comprido, que fica na área rural da cidade de Vicência. Naquele lugar tem duas árvores que são conhecidas com o nome de Baobás. Os Baobás são árvores sagradas, que crescem para dentro da terra e seus galhos parecem que são raízes na direção do céu. As sementes dos Baobás de Poço Comprido vieram da África, e, com certeza, foram trazidas escondidas por algum africano que foi aprisionado, talvez por outros africanos, e foi vendido como escravo aos comerciantes que o trouxeram para o Brasil. É possível que ele tenha sido comprado no antigo Porto de Pernambuco que ficava ali em Itamaracá e foi caminhando acorrentado até o lugar onde ele finalmente cavou dois buracos e colocou as sementes da terra de onde ele veio.

As sementes morrem para dar vida a árvore. Assim ele sabia que, mesmo escravo, vivendo em uma terra distante, mas que passou a ser sua porque ali ele plantou um pedaço de sua terra de origem, do tempo em que era livre. Hoje, muitos anos depois, vamos começar o Festival Canavial louvando a República e a Bandeira brasileiras que estamos construindo, cantando e dançando em homenagem a esse nosso antepassado que carregava a semente do Baobá, a semente da árvore da liberdade nas terras de nossas vidas. Como a Bandeira que aponta para o céu da liberdade.

Viva o Festival Canavial, Viva Zumbi dos Palmares, Viva o Povo Brasileiro.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Festival Canavial

FESTIVAL CANAVIAL

Severino Vicente da Silva

Caros Ouvintes

Nas próximas semanas será realizado nas cidades de Nazaré da Mata, Vicência, Aliança, Condado e Goiana o Festival Canavial. Este festival já está fazendo parte da nossa vida cultural, a vida cultural da Mata Norte. Ele sempre é feito com novidades. Este ano, uma das novidades é que ele não acontece em uma cidade apenas, mas em cinco, desde o vinte de novembro até o dia 5 de dezembro. Outra novidade é em cada cidade, a produção dos eventos está sendo feita por pessoas do lugar, jovens que completaram o curso de Produção Cultural, que o movimento canavial ofereceu em Nazaré da Mata. Neste Festival eles irão demonstrar na prática o que aprenderam, completarão o seu curso.
Fui pesquisar no dicionário o significado da palavra Festival. Esta é uma palavra que tem muitos sentidos. Disse que é uma festa composta de muitas atividades que concorrem para fazer a alegria dos que vão participar; outro sentido é que é uma festa cívica, ou seja, é uma festa que é realizada para homenagear a cidade onde ocorre o festival; também significa festas escolares ou festas comemorativas de alguma colheita. Mas Festival também significa uma coroa de flores que coloca na entrada de uma cidade ou de uma casa onde está acontecendo a festa.
Vejam que coisa! Nós iremos nessas duas semanas seguintes fazer uma Festival que é uma homenagem às nossas cidades, e esse festival ocorre num período em que estamos fazendo a colheita da cana de açúcar. Este ano o festival Canavial, além de acontecer nas sedes dos municípios, ocorrerá em sítios e povoados. Toda a cultura do povo brasileiro vai ser apresentada, pois vai ter artistas do Rio de Janeiro, de Alagoas e também do Cabo de Santo Agostinho, de Olinda, Pesqueira, Recife, além dos artistas de nossa região. E outra novidade é que vai ter um ônibus-biblioteca que vai promover leituras, concursos de redação, palestras e brincadeiras com crianças e jovens. E também haverá oficinas para quem quiser começar os estudos para se tornar artesão. Além disso, vai haver vários encontros dos Mestres da Cultura da região com mestres de outras partes do Brasil, porque o Festival Canavial é essa Coroa de Flores formadas por nossos músicos, repentistas, poetas, dançarinos, figureiros, artesões, produtores culturais.
O programa Canavial convida a toda região para participar das atividades do Festival Canavial. Procure saber a programação de sua cidade, ou da cidade vizinha à sua e vá conhecer o trabalho cultural da nossa região, algumas das nossas criações culturais, as criações culturais do Povo Brasileiro.


Editorial para os programas dos dias 13 e 14 de novembro de 2009.

sábado, 7 de novembro de 2009

Saudação aos novos pontos de cultura

SAUDAÇÃO AOS NOVOS PONTOS DE CULTURA

Severino Vicente da Silva


Amigos ouvintes do Programa Canavial


Este final de semana tem dois motivos de alegria, além de continuarmos alegres por termos ido até Pesqueira, na semana passada para a inauguração do Ponto de Cultura ORORUBÁ. Esse nome Ororubá foi escolhido porque Pesqueira nasceu e cresceu no pé da Serra do Ororubá, onde vivem os índios Xucuru, parte da tradição que acompanha os mestres do Coco Cancão Pio, das Cambindas Velhas, dos Caipora e da Escola de Samba Labariri. As alegrias desse final de semana é a inauguração dos Pontos de Cultura ENGENHO DOS MARACATUS, em Nazaré da Mata e CABOCLINHOS DE GOIANA, em Goiana.
Uma vez eu li em um livro que a criação da solidariedade no Brasil, especialmente na Mata Norte, é uma invenção dos mais pobres, dos trabalhadores, dos que nada possuem a não ser o seu corpo e a sua imaginação. Pois bem, esses três pontos de cultura, ligados ao Movimento Canavial, são formados pelo companheirismo, pela solidariedade e cooperação de vários grupos. É assim, que pouco a pouco, vamos reconstruindo e renovando a nossa cultura, uma cultura enraizada na cooperação e não na competição.
Uma das belas tradições do Maracatu de Baque Solto é que quando ele foi sendo criado não tinha como objetivo ser melhor do que outros nem ganhar concursos. Os primeiros maracutus de caboclos saiam para desfilar nas ruas dos povoados e nos terreiros das casas. Esse negócio de concurso para ganhar prêmios veio depois. Também os caboclinhos, que os livros dizem ter começado no tempo em que chegaram aqui os primeiros portugueses, começou da dança dos curumins para alegrar a vida nas tabas e nos terreiros das igrejas onde eram catequizados. Nesses dois casos o objetivo era conseguir a alegria para quem brincava dançando e a alegria para quem brincava olhando os passos que simulam uma guerra e mostram a beleza e a agilidade dos corpos vivos e saudáveis. Em todas essas danças, em todos esses movimentos, estão sendo contados pedaços da história do Brasil, da história de Pernambuco, da história de nossa região. A dança dos Caboclinhos de Goiana contam como eram alegres s tempos mais antigos do povo brasileiro, mas que também era um tempo de confronto e de batalhas; a dança do Maracatu de Baque Solto, esse maracatu que foi criado e continua sendo renovado pelos trabalhadores dos engenhos e das usinas, conta a história dos desejos desses trabalhadores de serem reconhecidos criadores e construtores de um mundo carregado das raízes que fazem o povo brasileiro, desde quando acolheu o português e o auxiliou no corte do pau-brasil, passando pelo acolhimento das tradições trazidas pelos africanos escravizados e que, com os índios e caboclos, juntaram-se para fazer essa beleza de dança e de cores, que é a cara da gente.
Este final de semana o Programa Canavial saúda os novos Pontos de Cultura, desde o Agreste até a nossa Zona da Mata, que continuam a criar e recriar a cultura da gente, a cultura brasileira.

ps. Editorial escrito para os programas dos dias 6 e 7 de novembro de 2009.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Aula-espetáculo de maracatu nas escolas

Editorial para o Programa Canavial dos dias 30 e 31 de outubro

Caros ouvintes,


Todos os anos, nos dias de carnaval, nós nos acostumamos a ver desfiles de maracatus. Esses desfiles são conhecidos como Encontros de Maracatus. Vem muita gente assistir, e todo mundo acha bonito, tira foto, mas será que a gente sabe o que significa esse desfile, de onde vieram os caboclos, porque tem caboclos de lanças e porque tem caboclos que tem chapéus feitos de pena? E será que a gente sabe quem inventou as roupas que os caboclos vestem? E por que será que o caboclo usa lança e o índio tem uma machada na mão?

Estão vendo quantas coisas a gente vê e não sabe bem de onde vem? Pois é, essas invenções da gente, essas criações do povo brasileiro não são ensinadas nas escolas! As escolas da gente deviam ensinar mais sobre as invenções que os nossos antepassados, nossos pais criaram. Como não ensinam, as crianças saem da escola sem sabe o que é um Cavalo Marinho, de onde vem a Ciranda, como foi sendo criado o maracatu e tantas outras coisas da nossa cultura. Tem gente que sabe tudo sobre a história de outros países e outros povos, e não sabe nadinha, nadinha da história da cultura da cidade onde mora.

Ia ser tão bom que as escolas ensinassem mais sobre a nossa cultura!

Pensando nisso é que os mestres do Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança começaram a visitar as escolas e fazer uma aula espetáculo em algumas escolas da cidade. Essa idéia agora vai ser posta em prática em escolas na cidade de Nazaré da Mata. Os maracatus Águia Dourada, Leão Misterioso, Leão Cultural e Coração Nazareno vão, durante o mês de novembro fazer aula espetáculo em doze escolas da cidade. Eles vão se apresentar, mas vão dizer tin-tin por tin-tin o significado das roupas, das cabeleiras, dos instrumentos que são usados quando o maracatu sai para desfilar.

Assim, já no carnaval do ano que vem, muitas crianças e muitos rapazes e moças vão entender melhor o desfile dos caboclos. E os professores desses alunos também. Eles vão saber que o desfile de um maracatu de baque solto é uma aula de História do Brasil. Assim, de tiquin em tiquim, a gente vai aprendendo e ensinando a história do maracatu, que é parte da história de nossas cidades, e que é parte da história de Pernambuco e é parte da história do Brasil. E uma das primeiras lições que os mestres vão ensinar é que esse nosso maracatu, o Maracatu de Baque Solto foi criado depois que acabou a escravidão. Essa não é uma brincadeira de escravos, não é uma brincadeira que nasceu nas senzalas. E a gente deve ter orgulho de saber que a principal tradição da Zona da Mata Norte é uma tradição criada por homens trabalhadores e livres.

Tomara que essas aulas também aconteçam nas outras cidades da nossa região. Assim vai ser mais fácil explicar aos visitantes porque a gente tem tanto caboclo por aqui!

Viva a dança livre do caboclo de lança que agora está chegando nas escolas.